quinta-feira, 5 de março de 2009

Deficiência







A paralisia cerebral pode ser definida como um prejuízo permanente da postura e do movimento resultado de uma desordem encefálica não progressiva (Schwartzman - 1993). As causas da paralisia cerebral são várias, mas frequentemente encontramos: - problemas durante a gravidez (anemia grave da mãe, hemorragias diabetes, etc). - problemas durante e logo após o parto (rubéola, nascimento prematuro, icterícia grave, etc.) - problemas do nascimento até os dois anos de idade (asfixias, infecções do sistema nervoso central como meningites, por exemplo). Há alguns fatores que podem aumentar o risco de surgimento de paralisia cerebral: - convulsões - baixo peso fetal - gestantes de alto risco (com hipertensão ou diabetes, por exemplo). - idade materna (acima de 40 ou abaixo de 16). Grande parte da psicologia do deficiente está intimamente ligada a psicologia social, ou seja, da interação desse indivíduo com outras pessoas e no ambiente próprio de cada um. Dessa forma, o indivíduo portador de paralisia cerebral será menos limitado pela sua deficiência que pela atitude da sociedade em relação à deficiência. Há uma história espanhola que pode ilustrar isto. Fala a respeito de uma terra em que seus habitantes um a um passam a desenvolver caudas. Os primeiros habitantes que passam a desenvolver tal coisa, semelhante a dos macacos, fazem o que podem para escondê-la. Desajeitadamente enfiam suas caudas em calças e camisas largas a fim de ocultar sua estranheza. Mas ao descobrirem que todos estão desenvolvendo cauda, a história muda de forma drástica. Na verdade, a cauda revela-se de grande utilidade para carregar coisas, para dar maior mobilidade, para abrir portas quando os braços estiverem ocupados. Estilistas de moda começam a criar roupas para acomodar, na verdade, acentuar e libertar as recém-formadas caudas. Logo começam a usar adornos para chamar a atenção a esta novidade. Então, de repente, aqueles que não desenvolveram caudas são vistos como esquisitos e começam freneticamente a procurar formas de esconder tal fato comprando caudas postiças ou retirando-se completamente da sociedade de "cauda". Que vergonha, não ter cauda! Essa influência da sociedade em excluir o diferente pode ser observada no comportamento de crianças pequenas que parecem não terem sido influenciadas pelos padrões da sociedade. Brincam livremente com as crianças diferentes: somente após incorporarem os padrões culturais de perfeição e beleza que passam a zombar da criança de olhos vesgos, do garoto chamando-o de "retardado" ou imitando a gagueira ou a deficiência física dos outros. É a atitude da sociedade, na maior parte das vezes, que definirá a deficiência como uma incapacidade e é o indivíduo portador de deficiência que sofrerá as conseqüências de tal definição. A FAMÍLIA De acordo com Meyer (Família Dinâmica - 1987), a família pode ser considerada como uma unidade sócio-econômica organizada em torno de um par heterossexual em que o padrão de atitiude deste grupo estará relacionado ao meio ambiente cultural, ao mesmo tempo em que irá definir os papéis de seus membros e estabelecer as bases de suas interações. A partir do momento em que nasce uma criança com paralisia cerebral e esta é trazida para a casa, o clima emocional da família se transforma. Grande parte da reação inicial a esta notícia será determinada pelo tipo de informação fornecida, a forma como ela é apresentada e a atitude da pessoa que faz a comunicação. Estes aspectos citados serão bastante relevantes podendo determinar a aceitação desta criança no núcleo familiar. É pouco adequada a atitude dos pais em tentar disfarçar os fatos a fim de amenizar o choque dos familiares, principalmente em relação as crianças que conhecem tão bem a "psicologia" dos pais e sentem quando estão sendo enganadas. É fato que existem outros fatores que afetarão o papel da família na aceitação ou rejeição da criança portadora de paralisia cerebral. Um exemplo seria a forma como essa família enfrentou problemas sérios no passado, isto estará intimamente ligado ao modo como lidará com novos problemas. A presença de uma pessoa deficiente continuará a trazer dificuldades no meio familiar que exigirão de cada membro deste núcleo, redefinições de papéis e mudanças, mesmo após a absorção do impacto inicial. OS PAIS As pessoas se casam, tem filhos e se tornam pais. É importante que não nos esqueçamos que os pais são, antes de tudo, seres humanos. Não podem ser separados da condição de pais, mas - ter um filho é apenas uma parte do complicado papel desempenhado por um indivíduo. Todos os pais que aguardam o nascimento de um filho idealizam essa criança que está por vir ao mundo, seja nos aspectos físicos ou comportamentais deste novo ser. Nos primeiros dias após o nascimento da criança é importante que os pais possam conciliar a imagem do bebê que formaram no período da gravidez (bebê idealizado) com as impressões que elas passam a ter deste bebê real. No caso de casais que venham a ter uma criança com paralisia cerebral este momento é muito mais difícil. Assim, alguns mecanismos de defesa surgem no psiquismo destes pais e são manifestos em comportamentos tais como: - pais negam a importância do problema. Após alta da maternidade médicos encaminham para avaliação em centro de reabilitação e os pais não realizam tal coisa. Negação. - pais projetam a culpa sentida por eles próprios em pessoas próximas, geralmente nos profissionais envolvidos com a criança. Em alguns casos, colocam a culpa no próprio cônjuge. Projeção. - Pais afastam-se do bebê, não por que não se preocupem, mas porque é doloroso demais preocupar-se tão profundamente e sentir-se ao mesmo tempo tão completamente impotente. Rejeição. Os filhos, cujos pais apresentam esse com portamento de rejeição podem desenvolver sentimentos que interfiram em seu comportamento tais como: ansiedade, tensão, sentimentos de inferioridade, auto conceito negativo, insegurança, falta de confiança em si, falta de iniciativa. - Mãe (geralmente nota-se esse tipo de comportamento nas mães) não permite que o filho sofra o mínimo de frustração que é importante para o seu desenvolvimento. Dessa forma, ela deixa de lado sua vida e passa a dirigir toda a sua atenção a esse filho. Freqüentemente essa mulher passa a ter dificuldades no seu relacionamento conjugal e com os outros filhos. Ela não se sente digna de ter um momento para si, não consegue uma descarga adequada para as suas tensões e seu conflito aumenta. Superproteção. A criança que a mãe manifesta esse tipo de conduta pode desenvolver comportamentos como: possessividade e egocentrismo, baixa tolerância à frustração, revolta ou apatia. É comum observarmos nesses pais sentimentos naturais de medo, dor, desapontamento, culpa, vergonha, frustrações e uma sensação geral de incapacidade e impotência. Todos esses sentimentos são naturais, pois são raros os seres humanos que poderiam aceitar de imediato um filho portador de uma deficiência. Durante a orientação psicológica desses pais é imprescindível a criação de um espaço emocional para que esses sentimentos sejam livremente expressos e elaborados, visando uma aceitação do seu filho, pois somente dessa forma os pais poderão ajudar essa criança a conviver com a realidade. O INDIVÍDUO PORTADOR DE DEFICIÊNCIA No que se refere a personalidade, não existe um tipo ou tipos que definam os indivíduos portadores de deficiência física. O único ponto em comum entre os portadores de deficiência é a própria limitação, ou seja, todos apresentam um déficit que os discrimina da população "normal". Cada indivíduo é um todo integrado e funcional; dessa forma deve ser compreendida sua estrutura de personalidade. Esta é formada por traços herdados e adquiridos: dessa forma a personalidade de um indivíduo apenas poderá ser entendida mediante a totalidade de seus diferentes aspectos: bio-psico-sociais. A deficiência física será vivenciada de formas diversas de acordo com a estrutura de personalidade de cada um. Assim alguns encaram a deficiência como um desafio a ser superado com novas formas de adaptação, busca de outros referenciais. Outros mostram reações negativas de acomodação à situação com momentos depressivos e de angústia. De uma forma geral a deficiência significa: limites de ação e expansão pessoais e conseqüentemente acaba por segregar o indivíduo do convívio social, afastando-o das oportunidades normais de realização (pessoal, profissional, social, afetiva, etc.) Especificamente no caso das crianças portadoras de paralisia cerebral, elas apresentam uma deficiência quanto a consciência de seu próprio corpo: isto devido a dificuldade em relação de seus membros e o seu centro de gravidade que geralmente está sujeito a oscilações. Isto pode levar a uma distorção da noção real de espaço, uma dificuldade de adaptação dessa criança ao mundo nas suas relações de espaço, tempo e relações interpessoais O medo de cair, a aflição ao falar, a insatisfação por não conseguir realizar tarefas trazem momentos de insegurança e ansiedade para essas crianças. São inúmeras as limitações que perturbam e dificultam o desenvolvimento harmônico da personalidade das crianças portadoras de deficiência. A situação de deficiência favorece o aparecimento de estados freqüentes de depressão, insatisfação, insegurança, reações de agressividade, impulsividade, baixa tolerância à frustração. O sentimento de frustração pode levar a comportamentos como: agressividade, desconfiança, ansiedade, condutas regressivas, impaciência, depressão, inveja, bloqueios, fuga, dificuldade de adaptação social. Outro fator importante, que os profissionais de reabilitação, devem considerar, ao trabalharem com indivíduos portadores de deficiência é o nível de expectativa desses pacientes. É imprescindível estimular o indivíduo no sentido de levá-lo progressivamente a atingir melhoras, às crianças é de grande valor esclarecer-lhes sobre as conseqüências de sua deficiência, ajudando-a a conviver com ela e superar suas limitações. O mais importante é manter o nível de expectativa, dos indivíduos portadores de deficiência, dentro da realidade. Ao avaliarmos os aspectos de personalidade da criança e observarmos a necessidade de um acompanhamento psicológico utilizamos a ludoterapia. Esta técnica tem a finalidade de proporcionar um espaço para que a criança possa expressar suas fantasias, desejos e experiências de uma forma simbólica através de jogos ou brinquedos. Sabemos que brincar é o meio de expressão mais importante da criança. De uma forma geral, os objetivos da ludoterapia são: produzir alívio de tensões para a criança, melhorar suas relações com os pais e outros adultos significativos e torná-la socialmente mais adaptada sem se tornar dependente ou passiva. Em outro momento realiza-se, além da avaliação da personalidade do indivíduo portador de deficiência, um estudo do potencial cognitivo das crianças portadoras de paralisia cerebral. Para tanto observa-se os seguintes comportamentos: Físico: locomoção, coordenação motora, orientação da localização e consciência do esquema corporal. Intelectual: linguagem e seu desenvolvimento, compreensão e comunicação verbal ou não verbal, atenção, percepção, discriminação, formação de conceito, associação, habilidade para abstrair, memória, habilidade para imitar, capacidade para adaptar e resolver problemas, raciocínio, orientação no espaço, tempo e seqüência de estímulos, etc. Emocional e Social: atitude da criança em relação aos pais, ao entrevistador e as vindas ao centro de reabilitação, estabilidade, capacidade para enfrentar experiências novas e de se adaptar, recursos que possui, perseveração, tolerância à frustração. Após a observação dos dados citados acima, realiza-se um relato em que conste a qualidade do trabalho da criança e as áreas em que a criança é mais forte ou mais fraca. Assim têm-se uma avaliação qualitativa do potencial intelectual dessa criança visando orientar pais, terapeutas e professores em que áreas existe um potencial a ser explorado. Finalizando, o mais importante para os profissionais que trabalham com os indivíduos portadores de deficiência, seja no caso da paralisia cerebral ou não, é que a criança portadora de deficiência tem as mesmas necessidades de qualquer outra criança. Ela necessita ser amada, valorizada e sentir-se participante do grupo familiar.